Não importa o que você procura. Tem Aly
(e outros detalhes para quem anda de bicicleta)

Turista profissional que sou, com passagem em mais de 30 países e 17 estados brasileiros, acostumada com carros, ônibus, aviões, trens e até transatlânticos, ao decidir viajar solo de bicicleta pela primeira vez, fiquei em dúvida onde ir.

Thais Pacheco
Jornalista
Produtora e Criadora de conteúdo

Assistido um vídeo no Youtube, em que uma garota pedalava beira-mar em Iguape, e achei que era um sinal aquele vídeo cair na minha frente quando procurava destinos. Nunca tinha ouvido falar em Iguape (sim, tenho vergonha em confessar isso publicamente). Mas, assim como o vídeo apareceu do nada, a pessoa que me hospedou, Aly, é certamente uma das profundas conhecedoras de toda a região, geográfica, história e cultura do Vale do Ribeira. Fui sem saber nada e voltei sabendo muito. Que sorte!

Aliás, esse foi só um pedaço dela, sorte grande mesmo foi eu ter arrastado o mapa do Booking.com atrás do melhor custo X benefício e o mais próximo da água possível ,foi quando vi fotos e preços de Pousada Atelier Aly da Costa, mandei uma mensagem de WhatsApp pra tentar barganhar um desconto. E Aly me respondeu e foi tão gentil, amorosa e divertida – via a duas ou três simples mensagens de WhatsApp – que me convenci na hora. Viajar, para grande parte dos turistas que conheço, também é sobre conhecer pessoas não somente a lugares, e aquela pessoa me encantou.

Não pesquisei para saber onde exatamente o local ficava. Já sabia o que precisava: tinha wi-fi de qualidade, ficava perto da água, o preço era bacana – com café da manhã incluso – e as fotos eram de um local bonito, o resto eu resolveria na hora e, daquele ponto poderia chegar em qualquer lugar pedalando, que era meu objetivo principal.

Porém, quando tirei minha bike do ônibus na rodoviária de Iguape, já percebi que estava em um lugar mágico. Em menos de 3 minutos estava cercada de pessoas leves, conversando, ajudando, dando dicas, uma verdadeira troca de experiência. Era oficial: eu tinha saído da poluição, caos e pressa de São Paulo e havia chegado em um local puro, de ar limpo e ritmo humanizado, comecei a entender que tinha feito a escolha certa, mesmo sem ter pensado sobre isso.

Subi na bike, dei uma volta rápida por Iguape, liguei o mapa e botei o destino:  Pousada Atelier Aly da Costa. Ao ver duas opções no mapa optei pela mais curta, que mostrava uma estrada menos movimentada e uma altimetria considerável (ciclistas entenderão, existe esse estranho prazer de querer subir a ladeira mais difícil).

Foram 12 quilômetros e 45 minutos de pedalada. Mas na verdade, eu demorei quase duas horas para chegar,porque fazia muito tempo que não tinha a oportunidade de ver uma bela paisagem como aquela. A cada curva eu era obrigada a parar e fazer uma bela foto. E o cheiro? Eu estava no meio de área preservação, o dia estava nublado e úmido, o cheiro de mato entrava pelos meus pulmões trazendo aquela incrível sensação, que tenho certeza que você conhece, de estar limpando tudo. Até a alma! E, o melhor, todos os carros que passaram por mim foram extremamente generosos e cuidadosos.

Ao final dessa estrada, entendi que não estava exatamente em Iguape. Confirmei quando passei por uma placa escrito Icapara. Se eu não sabia da existência de Iguape, que dirá Icapara…

Estava nublado, escuro, ameaçando chuva… Em vez de entrar na Vila de Icapara, optei por pedalar direto para a pousada. Passei por uma tribo indígena, pude reparar o rio ao lado no mapa e, ao chegar lá entendi que havia resolvido a primeira dúvida dessa viagem, no primeiro parágrafo desse texto: onde ir. Eu estava no meio de uma área de preservação ambiental de Mata Atlântica, um pouco acima de um rio que, logo depois, encontra o mar. Eu quase não podia acreditar: A Pousada Atelier Aly da Costa fica entre a cidade, o campo e a praia. Eu nem sabia que existia a chance de escolher todos os destinos ao mesmo tempo num mesmo lugar!

Olha que coisa mais linda essa chegada:

Pousada Aly da Costa

Esse é um texto para compartilhar minha experiência, dividir informações e ajudar e/ou inspirar outros turistas que, como eu, queiram (e eu indico sem pestanejar) usar a Pousada da Aly como base para explorar a região. Porém, como me alonguei demais nessa introdução, mas ainda tenho muito a dizer, vou separar o texto, a partir de agora, em tópicos. Assim, você pode ir direto ao ponto que te interessa!

Basta clicar e ir para o tópico =)

Pessoas e pousada

Aly
A Alysson me recebeu na porta porque estava com amigos, tão simpáticos quanto ela, devolvendo a cadelinha que ela estava cuidando enquanto o amigo viajava. Quando chegar lá, pergunte sobre a história da Meiguinha, é uma das MUITAS histórias que Aly tem pra contar e que são gostosas de ouvir.

Me ajudou, orientou, me acompanhou e me acomodou. Me deu tempo pra me organizar e, depois, me fez chorar. De emoção por estar lá e de alegria de acreditar nos encontros. Não vou contar como isso acontece. Sou contra spoiler. Ela fará o mesmo por você. Só digo que vale à pena.

A Aly é canceriana, ativista ambiental, publicitária, turismóloga, budista, desapegada, mulher, filha, amiga e artista plástica. E pode ser, se você quiser, uma boa amiga e sua guia particular, rs.

Não sei você. Eu gosto de gente assim. Que é de tudo um pouco, mas com profundidade.  Escolha qual dos temas acima lhe interessa e abuse de sua anfitriã. Ela vai adorar.

Silvio
O companheiro/parceiro de Aly é engenheiro florestal, ambientalista, professor, meio paulista, meio mineiro, jardineiro planetário, presença agradável e gentil. Ele é divertido de observar porque, às vezes, está de avental de jardineiro cuidando da horta, às vezes de macacão limpando cantos das paredes, às vezes estudando e, sempre que você quiser, te fazendo companhia conversando sobre papos profundos ou bobagens tomando um cafezinho.

Andreia
Avó coruja, mãe orgulhosa, namorada divertida, ciclista por opção de transporte, cozinheira de mão cheia, dona do chapéu de coro – o bolo de pão de queijo mais incrível que você vai comer na vida-, companhia leve e deliciosa e, acima de tudo, uma resolvedora de problemas. Essa é Andreia, a outra personagem incrível deste cenário que gostei tanto de conhecer.

Eu não sei cozinhar e estava lá fazendo um macarrão com bisteca na cozinha dela quando ela disse “me diga o que exatamente você quer fazer”, falei, ela me deu as dicas necessárias e saiu da cozinha. Quando vi, meu almoço estava pronto e delicioso com as dicas sutis.

Eu ia sair às 6h para pedalar e o café da manhã começa às 8h. ela me perguntou o que eu gostava de comer antes do pedal e avisou: pode vir as 6h que estará tudo pronto para você comer. A Andreia resolve coisas. É isso que ela faz na vida. Pelo que pude ouvir das histórias que ela contou, sem se gabar disso, ela resolve tudo pra todo mundo. Pelo que pude viver ao lado dela nos 8 dias que passei por lá, também. É uma das pessoas que anda pelo mundo para facilitar a vida dos outros. Linda, querida, maravilhosa.

Worldpackers
A Pousada Atelier Aly da Costa recebe mochileiros do mundo nesse programa em que se troca estadia por trabalho. Habitué de albergues, sempre vejo isso por aí: durante um período pré-determinado, o mochileiro dorme e come na pousada/albergue em troca dos mais diversos serviços na pousada: limpeza, arrumação, serviços de comunicação etc.

Enquanto estive lá, tive a oportunidade de conhecer o worldpacker da vez, Fabrício, um músico/compositor e jornalista baiano, super gentil e comunicativo, excelente companhia também. Foi ele que primeiro me avisou que, naquele fim de semana em que estaria lá, haveria um festival de jazz gratuito na cidade de Iguape. Fomos juntos, eu e ele, com uma gentil carona de Aly e, lá ainda tive a oportunidade de conhecer muita gente legal da cidade, via Aly, incluindo Poliana, a worldpacker que esteve lá antes de Fabrício, e que resolveu ficar e morar na cidade. Outra companhia superagradável.

Tudo o que envolve a pousada da Aly é agradável demais.

Pérola, Panda e Jade

Depois da Aly, a primeira a vir me dar as boas vindas, foi Pérola.

Pérola

Os três cãezinhos que vivem na Pousada Atelier Aly da Costa também são companhias incríveis, agradáveis e gentis, além de extremamente carismáticos. Cachorros bacanas e educados que só te rondam se você quiser, só brincam se você quiser e são mais sensatos que muitos humanos que conheço, em termos de respeitar o espaço alheio. Além de LINDOS. Já estou morrendo de saudades da meiga Pérola, o grandão desengonçado Panda e a princesa Jade…

Pousada e Entorno

Eu cheguei na Aly domingo à tarde, dia 11 de setembro. Fiquei até segunda-feira, dia 19. Foram 8 noites e dias maravilhosos. Há opções de acomodações para todos os bolsos, gostos e tamanhos de famílias. Eu optei pelo albergue em vez do quarto individual. Eu trabalho remoto e por isso perguntei antes se o sinal de internet era o bom o suficiente para fazer reuniões em vídeo e se tinha espaço para trabalhar. À exceção da área do café da manhã, os diversos pontos de internet de toda a pousada – que é enorme – oferecem qualidade impecável de sinal. Na cozinha comunitária, nos quartos, na área de convivência – que pode ser chamada de Coworking e realmente foi um delicioso enquanto eu estava lá – e piscina.

Se sua operadora, como a minha, é Claro, esqueça o sinal de celular. De Icapara pra frente, incluindo Juréia, não funciona. Me disseram que Vivo funciona. Mas de Iguape pra baixo, funciona muito bem.

Aconteceu de a chuva chegar na segunda de manhã e só ir embora na sexta à tarde, ou seja, em horário comercial. Já que eu tinha que trabalhar e que estava chovendo, optei por não sair da pousada, já que eu precisava de sinal e não poderia ir longe embaixo da chuva… Pense em uma PAZ. Foi uma semana perfeita, molhada, fria, cercada por um dos mais incríveis silêncios que eu já havia vivido. Interrompido, às vezes, por pássaros com sons maravilhosos e, nas horas de breaks, pelas conversas agradáveis. As janelas de meu escritório, naquela semana, variavam entre essas cenas:

Nos intervalos, eu aproveitei para dar pedaladas curtas pela fofíssima Vila de Icapara. Mesmo nos mais curtos trajetos e entorno da pousada, já é possível escolher entre pedalar em chão de asfalto, de terra ou de areia. Dá pra ir pro centrinho conversar com o agradável e receptivo pessoal local, pedalar beira-rio, se perder de leve pelos caminhos do interior da vila, pegar a rodovia e optar por comer o gostoso e barato sanduíche do Marujo Lanches, o incrível peixe e tempero da Suely, do restaurante que fica literalmente do outro lado da rua da pousada, parar na adega ou na farmácia ali próximo. (E só, não tem muito mais no entorno, além de um mercadinho e a pizzaria delivery, Parada Obrigatória, supergostosa também, que entrega lá na pousada até debaixo de chuva.

No dia que tive um tempinho extra, aproveitei para pedalar até a fofíssima Praia do Leste, que fica a 13 minutos de pedalada da Aly.

Sem exageros, só essa semana chuvosa com essas pequenas saídas, já teria valido o rolê todo.

Mas como a vida é sempre boa para quem viaja e –  como já disse algumas vezes nesse texto, as energias desse lugar são incríveis – quando bateu a tarde de sexta-feira, quase na hora de bater o ponto, o Sol saiu de trás das nuvens e me acompanhou até a hora de partir, na segunda seguinte, permitindo os mais incríveis rolês de bike, os quais tive que escolher a dedo, entre tantas opções que existem por lá.

P.S – A pousada não se chama Pousada Atelier à toa. Aly é, de fato, uma talentosíssima artista plástica e suas obras estão expostas no ateliê, feitas à mão, em madeira e barro. São belíssimas. Se você se interessa mais por arte do que por natureza e pessoas. Também é o lugar para você. As peças enfeitiçam por si só. Mas ouvir a versão do criador sobre a criatura é bem válido. Pergunte a Aly como criou tudo. São histórias encantadoras. Se meu dinheiro desse, minha casa estava decorada com elas.

Rolês de bike

Antes de falar sobre os rolês nos arredores, queria dizer uma coisa pro pessoal da bike: aqui tem uma mega estrutura pra quem pedala. Pode vir de turma que cabe todo mundo. Pode vir de carro de apoio, que tem muita garagem. Pode vir com 20 bikes que dá e sobra espaço pra guardar, lavar e não precisa nem de corrente porque o lugar é super seguro. E pode se programar pra sair e chegar na hora que quiser, porque o pessoal da pousada vai se desvirar pra te ajudar a montar a infraestrutura que você precisa. Sabendo disso, segue a história:

Conversei muito com a Aly sobre onde, quando e como pedalar quando o meu tempo livre chegasse. Ela conhece toda a região, já esteve em todos os caminhos possíveis e me mostrou no mapa distâncias, possibilidades e atrações. São tantas, que saí de lá com a certeza de que precisarei voltar com mais tempo, porque os dois dias que separei para pedalar, definitivamente, não foram suficientes, apesar de perfeitos.

As opções de pedal no Vale do Ribeira são todas. Existem pequenas, seguras e agradáveis ruas asfaltadas em Icapara, Jureia e Iguape, estradas de asfalto, mais velozes, como a SP 222 ou mais vazias, como a Estrada do Icapara e da Barra (onde pedalei a noite, sozinha, observado a vida noturna, no escuro, só com a luz da minha bike e das estrelas, em total segurança) trilhas de terra para mountain bike que passam por áreas de preservação, tribos indígenas, comunidades quilombolas e natureza intacta e belíssima. Não fiz essas, mas Aly me contou que uma delas é, inclusive, sinalizada para bikers. E, claro, você pode pedalar por muitos e muitos quilômetros à beira-mar, na Juréia ou na Ilha Comprida, em trechos que vão de 5 a 70 quilômetros.

Para a praia, tenho quatro sugestões:
– Não murche o pneu como faz na terra. A areia é dura como asfalto;
– Verifique a maré, pegue ela baixa;
– Cheque o vento. Eu não consegui chegar ao Costão na Jureia porque não tinha forças pra vencer o vento;
– Use filtro solar.

Depois que voltei de lá é que descobri que, na internet, já existem muitas referências, vídeos, histórias e sugestão de trilhas e caminhos do pedal no Vale do Ribeira. De qualquer forma, fiz por minha conta e com ajuda da Aly ao lado do Google Earth, 4 rolês que indico os 4. Anote aí:

1 – Iguape-Icapara e volta. Da rodoviária de Iguape até a Pousada da Aly, sugiro a Estrada do Icapara. É uma reta só, vistas lindas pra água e 3 ladeiras desafiadoras. A ida é mais fácil que a volta. No sentido Icapara – Iguape, elas são mais íngremes. Se você estiver na vovozinha (marcha superleve), com vários quilos extras na parte de trás da bike e não puder ziguezaguear (porque vem vindo carro e a via não tem acostamento), fatalmente a bike vai empinar e você terá de descer. Tudo bem, né? Só voltar.

Alguns quilômetros a mais e ela vira Estrada da Barra, que te leva até a Praia do Leste e a balsa para a Juréia, sobre as quais vou escrever aqui. A outra opção é a Estrada do Matias, que usei no fim de semana para fazer trilha, nesse passeio que te conto agora:

2 – Ilha comprida via Matias

No sábado de manhã, meu projeto era sair às 6h para pedalar. Movimentei todo mundo pra isso, a Andreia separou para mim o que pedi e que tem todos os dias no café da manhã: pãezinhos, bananas orgânicas (inclusive, me deixaram levar duas na minha bolsa) de lá mesmo, batata doce do quintal da Aly e café. Mas a cama é tão confortável, o silencia tão prazeroso, que acabei levantando só às 8h. Estão fazendo piada da minha cara por isso até hoje, haha.

Fui sentido Iguape mas, dessa vez, em vez da estrada do Icapara, optei pela estrada do Matias que já haviam me dito, é um trecho de treino pra mountain bikers. De fato, é uma delícia. Terra, buraco, poça, ladeira, mato… PERFEITO. No sábado de manhã, ao longo dos 10km da estrada do Matias, só cruzei com dois carros. Uns 3 cachorros, que correram atrás do meu pedal mostrando os dentes – mas eles nunca mordem – e pouquíssimos transeuntes. Basicamente, eu, meus pensamentos e a natureza.

No fim do Matias, a gente acessa a  SP222. É uma rodovia estadual bastante movimentada com carros em alta velocidade, sem acostamento e com muitas curvas que atrapalham a visibilidade do motorista em relação a você. A maior parte do trecho entre Matias e Iguape tem mini trilhas nas laterais, formadas pela passagem das bikes mesmo. Apesar da sujeira e de parecer um lugar mais propício a furar o pneu, sugiro usá-la. Eu ganhava tempo e vento na cara nos trechos de reta, com boa visibilidade, quando entrava na estrada e metia marcha, rs. Deu pra chegar a 42km/h na minha mountain bike.

Ao chegar em Iguape, dei um rolê por um dos centrinhos históricos. A cidade tem vários pontos turísticos com construções históricos e só ela merece um calmo, longo e delicioso rolê. Se tiver tempo, separe um dia pra isso, com direito a paradas em cafés, padocas, na biquinha e lojinha de Iguape. Tem MUITA bike lá. Um colírio para os olhos dos que curtem uma barra circular, a mais usada por lá.

De Iguape peguei a ponte para Ilha Comprida e cheguei em uma de ciclovias de orla mais legais que já vi na vida. Larga, longa, planinha. É o rolê perfeito pros que estão começando a treinar o preparo físico.

Assim que percebi que o movimento na beira da praia diminuiu, saí da ciclovia (que continuava na cidade) e entrei na praia. Eu poderia ir pra cima, sentido praia do leste, ou descer sentido Cananéia. Como estava disposta a ir tão longe quanto minhas pernas aguentassem, fui pra baixo. Contando o tempo médio, para voltar antes da maré subir, antes de escurecer e antes de minhas pernas não terem forças pra voltar. Imaginei que Pedrinhas fosse um bom lugar para bater e voltar e, se aguentasse um pouco mais, poderia ir até as dunas do Juruvauva, como me recomendou Aly.

Mas não consegui. Passando um pouco do balneário Praia das Flores, parei pra almoçar um PDF no Adauto com peixe, salada, arroz e feijão por R$ 25 e voltei. Pelo mesmo caminho que fui – Até a rodoviária de Ilha Comprida, ponte, Iguape, SP 222, Matias – pousada da Aly. Bati 94km em 6h30 de pedal.

Pedalar sozinha na praia por um trecho tão longo foi uma experiência nova pra mim. No começo, chorei de alegria. Depois passei muito tempo apenas sentido o vento na cara. É tão vazio que dá pra pedalar de olho fechado. Aí observei o Sol, ouvi as ondas, reparei que sempre tem um outro telhado por perto e me senti segura pelo fato de saber que não estaria muito sozinha caso precisasse de algo. Conversei com um senhor que também pedalava, parei pra falar com uma criança que morava ali perto e foi até a praia de bike só observar os restos de um peixão devorado por urubus e ficamos imaginando que eles começaram pelos olhos. Pensei em coisas boas, fiz uma auto terapia, cantei umas três músicas em voz alta sem ter plateia pra ouvir…

Aí enchi o saco. Dá um baita tédio pedalar mais de 30 km na praia com zero obstáculo. Qualquer outra via exige atenção. Ali, nada. É só você e você mesmo. Sugiro ir acompanhado. Ou levar um som.

3 – Praia do Leste

Na sexta à tarde, véspera do rolê grandão, fiz um pedal pequeno de aquecimento. Fui até a Praia do Leste, do lado do continente (a outra opção é chegar via Ilha Comprida. Saindo da Pousada da Aly, pela Estrada da Barra, passando pelo moço que vende Ostras e o que tem um bar descoladão, você chega lá em menos de 15 minutos. Ao entrar na Avenida Brasil (uma mistura pesada pro pedal e areia e terra), você pode decidir onde vai. Direto até a beira do mar ou se perder pelas areias da vilazinha. Dá pra fazer altas trilhas na areia e cruzar com uns hippies bacanas que te ajudam a descobrir caminhos (sem bem que eles estão traçados no google maps também).

Outra opção ao sair de lá é bater na balsa e voltar. Esse é trecho que mencionei ter feito à noite. É MUITO legal e gostoso. Faça! Mas ilumine sua bike para enxergar a pista na frente e para que os carros que passam possam te ver, vindo de frente ou de trás.

4 – Jureia

Assim como eu não sabia da existência de Iguape, nunca tinha ouvido falar na Jureia. Da Aly até a balsa são 7km e uns 20 minutos de bike numa estrada bem simples, sem muita ladeira. A balsa é gratuita pra dois tipos de passageiros: os que estão a pé e os que estão de bike.

A travessia é linda e curta, coisa de 15 minutos ou menos. E a balsa sai, pasme: 24 horas. Com intervalo de meia hora durante o dia e 1 hora na madrugada. A praia da Jureia em Iguape é uma das coisas mais lindas que vi na vida. Como estive por lá num domingo frio e fora de temporada, a chegada, ao desembarcar da balsa, me lembrou Jericoacoara. A praia, linda, maravilhosa, perfeita e o vento incontrolável, me fizeram me perguntar porque me dei ao trabalho de ir até o Ceará se a Jureia estava aqui do lado o tempo todo.

Exageros à parte, saí da balsa, pedalei na orla do rio, depois voltei, desci pra beira mar e pedalei até a ponta onde o Rio Ribeira encontra o Oceano Atlântico. Agora não é piada nem exagero. É, de fato, um dos lugares mais deslumbrantes que já estive na vida (palavra de que morou e Fernando de Noronha e visitou ilhas Maldivas).  É um efeito visual e psicológico que a natureza costuma causar em mim em pontos de encontro entre rio e mar. Já pensou no significado e na grandeza desse encontro, entre rio e mar? E está há meia hora da pousada da Aly!!!!

Nesse dia, como eu saí meio à toa, sem grandes expectativas, porque estava cansada do dia anterior, nem me preocupei em checar vento ou maré. Por isso deixei essa dica. A volta desse ponto foi muito difícil. Minha bicicleta tem uma maravilhosa catraca megarange de 34 dentes que deixa a marcha SUPERleve, pra pegar subir até muro. Nem ela, nem eu, juntas, fomos fortes o suficiente para lidar com o vento que vinha contra nós. E a merá subia tanto e tão rápido, que eu estava vendo a hora que ia ter q sair da areia dura e empurrar a bike pela areia fofa. Foquei o olhar na conchinha, pedalei a 1km/h e encarei os cerca de 7 quilômetros de volta pra vila, onde poderia pedalar no asfalto.

Explorei a vila da Juréia sem pressa, por cada ruazinha, reparei nas nuances da simples arquitetura local, observei pessoas com a tranquilidade de quem vive no mar, cruzei a parte asfaltada/areiada de ponta a ponta, descansando as pernas e decidi voltar pra areia e fazer o trecho de 18 quilômetros até o Costão e, quem sabe, visitar o Parque Estadual Prelado, ambos também indicados pela Aly.

Doce ilusão. Mais 3 quilômetros de pedal e tive que desistir de novo. O vento não me permitiria. Voltei pro centrinho, onde tinha visto barraquinha na areia de frente pro mar, encontrei Poliana, a ex backpacker de Aly e sua filha e ali mesmo passamos a tarde, com cerveja, peixe e conversa boa, olhando o mar e vivendo o ventasso. Foi lindo.

Como chegar
Se você vai de bike saindo de São Paulo, pode pedalar pela Régis Bittencourt.  Eu não tenho coragem. Então, fui pela viação Valle Sul, saindo do terminal Barra Funda que, para quem não sabe, tem apenas uma plataforma de embarque, com alguns portões. Não tem como errar.

Tanto na ida quanto na volta, peguei ônibus novos, limpos e confortáveis e motoristas gentis, responsáveis e bons de roda. Diferente dos ônibus que pegamos pra Santos que nos deixam colocar a bike inteira no bagageiro, esse pessoal pede pra desmontar e embalar. Tirei o pneu da frente, passei um elástico e envolvi na capa de chuva da bike. De fato, os bagageiros foram e voltaram lotados. Foi melhor assim.

O que não me explicaram e me deixou um pouco confusa, é o que quero explicar agora: quando a gente procura sobre Ilha Comprida na internet, tem informações sobre Iguape. Mas esse ônibus para em dois terminais diferentes: o de Iguape e o de Ilha comprida. Então, atente-se a isso na hora de comprar a passagem e definir o melhor ponto de embarque e desembarque para você.

Resumo e moral da história

Iguape, Ilha Comprida, Icapara e Jureia são lugares incríveis, que merecem ser visitados e, se você gosta de pedalar, então é mais perfeito ainda. E não existe, absolutamente, lugar melhor localizado para isso do que a Pousada Atelier Aly da Costa.

Se você se perguntar: onde ir de bike? É lá.
Se você, como eu, vai fazer sua primeira experiência de cicloviagem solo e quer algo com lugares próximos, fácil e seguro, para começar os testes, é lá.

Se, você estiver em dúvida entre praia ou montanha, campo ou mar, é lá.

Se você quer ficar poucos ou muitos dias, ter paz e silêncio ou agito, é lá.

Se você quer quarto individual com rede na porta ou ficar com a família, é lá.

Se você quer albergue e cozinha coletiva, é lá.

Apenas vá.

Boa viagem.

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2 Respostas
  1. Felipe Lemos

    Estou lendo os diários do famoso filósofo e escritor francês Albert Camus quando passou pelo Brasil em visita à América do Sul. Camus, dentre outras cidades mais conhecidas e populares, visitou também Iguapé, na qual participou de algumas festas religiosas na companhia do poeta Oswald de Andrade. Existe até um registro fotográfico dos dois . Fiquei curioso para conhecer essa pequena e bela cidade, já que, do mesmo modo que você, nunca tinha ouvido falar.

    1. Aly da Costa

      Olá. Que legal. Venha sim. Temos até uma alameda na Fonte em homenagem ao Camus. Quando quiser venha nos visitar e aproveitar nosso pedacinho do paraíso.

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